quinta-feira, 21 de maio de 2009

Um estado de espírito

A cadeira pressionava a base da coluna de forma desconfortável
os olhos pendiam de sono, de uma noite mal-dormida e longa
o frio da sala remetia a solidão que ele sentia durante anos
marcada nos pelos arrepiados dos braços como projeções do passado
ele virara tela de cinema de um filme velho e mofado que nunca foi filmado
era uma fantasia velha inventada por ele e que, de fato, nunca existira
mas que ele vestia sempre que a audácia o permitia e olhava pra ela
ela que, sorrindo olhava pra ele, mas nunca o via

sexta-feira, 15 de maio de 2009

um olhar
ele se morde os lábios, ele não fala
um toque
ele leva a mão até quase tocá-la, ele não fala
uma caminhada desajeitada, apressada na direção dela, ele não fala
uma série de piadas imbecis para impedir que ele desmorone, ele não fala
uma conversa aberta sobre os sentimentos dos dois, promessas efêmeras, ele não fala
vira o rosto ao vê-la sorrir ao lado de qualquer outra pessoa, infeliz por não ser ele, ele não fala
se contorce na cama reproduzindo um gesto qualquer que ela fez em sua frente durante o dia , ele não fala
uma covnersa vazia, os olhares divergem, brechas para uma aproximação se criam e se desfazem, ele não fala


FALA! FALA!

FALA!


...

ele não fala

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Meus pés enterrados

aqui, debaixo desse céu nublado
na beira do mar, meus pés enterrados pelas ondas
que chegaram sorrateiras enquanto o mundo girava
e me prenderam aqui, nessa praia, diante desse mar tão feminino e vazio
se me desvencilhar e tentar andar posso cair
se ficar parado ali, nada vai acontecer, a menos que uma onda me afogue
tudo o que posso fazer é olhar meus pés e olhar ao meu redor
entendo que existe mais alguém enterrado perto de mim
não tenho certeza de onde ou quem seja
uma onda desequilibrou essa pessoa e sinto que talvez ela caia
não ouso desenterrar meus pés
eu me questiono se deveria ir até lá e segurá-la
não me ouço desenterrar meus pés
eu faço sinais de que estou aqui e quero apoá-la
não me vejo desenterrar meus pés
vejo a onda arrastar essa pessoa para longe de mim
não sinto mais meus pés
virei parte da praia
relevo
tátil
áspero
monoromático
incompreensível
estático
sujeito às intempéries
nem mesmo o tempo pode me abalar
serei isso para sempre
até uma onda trazê-la até mim ou ela andar na minha direção
mas sinto que serei pisoteado por milhares de outras
e tudo o que terei pra mim
será o sentimento de mais uma vez o mundo vai ter girado
e eu ainda não vou ter desenterrado meus pés

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Do bom senso e da amizade

Lá estava ele, novamente tentando entender
fora julgado por tentar impor equilíbrio num relacionamento capenga
o julgamento veio da ausência de bom senso por parte de seus comparsas
pensou bem e chegou a concusão de que era culpa sua.
e era mesmo.
acostumou os póximos a dar mais do que tinha, a ser aquele que acredita em todas as promessas
o que carrega a bandeira nas costas, escuta as confidências e permite ser orientado por aqueles que está ajudando,
afinal, era pra ser uma troca justa e amigável.
Ele estava lá para aprender e em troca tinha tudo pra dar.
Pois é, quando se oferece tudo, não pode-se reclamar que tudo foi aceito, cobrado, transformado em commodity.
Ele ofereceu o céu sabendo que tinha apenas uma nuvem.
Seus comparsas pegaram a nuvem quase toda, reclamaram que não era o céu e ainda tentaram exilá-lo quando ele pediu uma parte de sua nuvem de volta.
E como se rouba uma nuvem, já que ela é quase etérea, subjetiva?
simples, basta você acreditar mais do que o próprio dono que essa nuvem não é mais dele.

Na vida a gente erra, acerta, remenda, conserta... Mas quando se fala de amizade, o costume é quem reina. Se você acostumar um amigo a dar tudo de sí, quando você precisar de você mesmo, não vai sobrar nada.

Ele se perguntava como fazer agora que essa situação estranha se instalou
se desesperava ao ver que não sabia a resposta.
-Foda-se! - Pensou ele, chateado por ter que perder tempo se preocupando porque seus comparsas ficaram chateados por ele ter se protegido do abuso oferecido por ele mesmo.

-O que eu tenho a oferecer é meu e OFEREÇO a quem eu quiser. Que quem quiser tenha a decência de pedir e quem recebeu sem pedir, tenha a consciência de respeitar os limites do bom senso! - Como que num estalo ele apertou as mãos para não erguer um dedo aos céus e pestanejar como um velho louco com mania de profecias.

É engraçado como a proximidade afeta as pessoas.
É triste como as promessas se desgastam e se vão.
É incrível como certas pessoas acham que os outros devem seguir-las só por terem um sonho.
É alarmante como esses sonhos contagiam e criam justificativas para tudo.
É grave o fato que as pessoas estão sempre se posicionando como vítimas, corretas e justas e não param para observar o Outro.
É decepcionante como nossas nuvems estão cada vez mais pesadas.
É cristalina a minha isnatisfação mais íntima e dissimulada.

Por meio de sutilezas e manipulações as vezes nos perdemos e ele já parou de olhar para o céu, pois agora só vê a sombra de ua nuvem, que de tão pesada, está próxima do chão.

Amigos, comparsas e colegas, tenham bom senso ao andar na nuvem dos outros.